Como enganar o cérebro e fazer coisas difíceis
Farol Ativo | Leitura: 8 min
Como nossa mente enxerga coisas difíceis
Para enganar nosso cérebro, primeiro temos que observar como nossa mente funciona. Porque nossos comportamentos têm padrões e se nós prestarmos atenção, descobriremos que o trabalho duro sempre envolve dois tipos de resistência. O primeiro são emoções negativas.
Uma boa analogia a se usar aqui é imaginar nosso cérebro como uma criança mimada. Quando elas não conseguem o que querem, o que elas fazem?! Reclamam, ficam de birra, entre outras coisas. Nossa mente funciona da mesma forma. Quando as coisas parecem estressantes ou chatas, nossa criança interior desperta e procrastina imaginando o quão difícil será começar o trabalho do dia, estudar para a prova ou qualquer outro projeto pessoal.
O segundo é o nosso ego ou a autoimagem que temos sobre nós mesmos. Nossa mente faz o possível para proteger nosso ego de ser ferido, porque o ego é o que atribuímos à nossa autoestima. Por exemplo, se eu crescesse acreditando que eu era mais esperto ou melhor do que a maioria das pessoas, isso faria eu me sentir especial, mas se de repente eu tivesse que fazer algo fora da minha zona de conforto, como convidar uma mulher bonita pra sair, meu subconscientemente evitaria, porque se eu falhasse iria provar que eu não era tão bom assim e isso destruiria o meu ego. Para preservar a nossa autoimagem, nosso cérebro evita fazer coisas difíceis.
Em caso de resistência, tentar lutar contra a resposta natural do nosso cérebro, de fazer algo duro, dificilmente funcionará, mas se identificarmos a fonte da resistência, podemos mudar nossa abordagem para enganar nosso cérebro para que trabalhe com a gente.
Contornando emoções negativas
Vamos começar com emoções negativas. A quantidade de emoção negativa que você sente, em relação a algo, depende diretamente do tamanho disso. Por exemplo, a sensação de tédio seria provavelmente pior, se eu soubesse que teria que passar dois meses sem meu celular versus passar uma hora sem ele; eu provavelmente me sentiria mais sobrecarregado, se eu tivesse que escrever um livro inteiro ao invés de um parágrafo. Nossa mente é muito visual, ela faz um cálculo mental sobre a quantidade de esforço que será utilizado para atingir esse objetivo final.
A primeira dica é dizer a si mesmo que você só vai fazer um pouquinho da coisa difícil, só vai dar um passo de bebê. Levantar o próprio peso parece muito difícil? Vamos apenas fazer uma série de supino; correr 10 quilômetros soa muito longe? Mas ei, vamos apenas dar uma volta no quarteirão. James Clear, chama essa técnica de “regra de dois minutos”. Podemos diminuir a dificuldade da tarefa para que as emoções negativas em torno dela não pareçam tão opressoras. Faça a coisa difícil apenas um pouquinho e depois reavalie como você sente, que não foi tão ruim assim, então como seria fazer isso apenas um pouco mais. Quão ruim seria resolver mais um problema de matemática ou mais um supino?! Quando dividimos um desafio enorme e assustador em passos muito pequenos, não vai parecer tão assustador e será mais provável que sigamos em frente.
Diminuindo a resistência em coisas difíceis
Outro truque que funciona muito bem pra mim e pode funcionar pra você é quando, por exemplo, vou caminhar e sinto uma grande resistência. Eu simplesmente começo a me preparar pra essa caminhada; troco a bermuda, coloco o tênis e pego minhas chaves. Se eu me sentir frustrado por ter que estudar, eu simplesmente vou abrir o meu livro ou ligar o computador, eu vou pegar meu plano de estudos, papel e caneta. Repare que não digo a mim mesmo que vou fazer essas coisas, eu apenas começo a me preparar. Geralmente apenas passando pelo processo de preparação, você acaba se convencendo de que poderia muito bem fazer agora, já que você está pronto. Sério, essa dica funciona, apenas experimente.
A próxima técnica que você pode tentar, é agrupar trabalho duro com trabalho agradável ou com recompensas. Lembra que eu falei que nosso cérebro é como uma criança mimada?! Então, precisamos falar com ele pensando dessa forma ou então encontraremos ainda mais resistência. Por exemplo, se você está cuidando de um garoto e ele começa a fazer birra por ter que fazer o dever de casa, você pode dizer que quando ele terminar a lição de casa ele poderá escolher um filme. Você, por exemplo, fará planos para sair com os amigos, mas só se terminar o seu trabalho antes. Você assistirá uns episódios do seu anime ou série, se você cumprir com sua rotina de exercícios. A questão é encontrar maneiras de incentivar o trabalho árduo com prazer, assim as emoções negativas ao redor desse objetivo não serão tão altas, tornando mais provável o alcance da meta.
Contornando nosso ego
Vamos passar para ego agora. O nosso ego é formado com base em todo o nosso passado e experiências; define quem somos e molda nossa realidade. No livro Psicocibernética, de Maxwell Maltz, é explicado que todas as nossas ações, sentimentos, comportamentos, até mesmo nossas habilidades, são sempre consistentes com nossa autoimagem. Só podemos agir com base em crenças que temos sobre nós mesmos, mas nossas crenças não têm nada a ver com a ação em si, por exemplo, independentemente de eu acreditar ou não que posso correr 1km em cinco minutos, o ato de tentar correr é exatamente o mesmo, a única diferença é que meu ego resiste porque tem medo de falhar.
Algo que podemos fazer é aliviar a pressão sobre nosso ego. Durante minha jornada de estudos na faculdade, tive diversas vezes que sair da minha zona de conforto e fazer coisas que eram realmente difíceis para mim, como apresentar trabalhos e até dar monitoria para uma turma, e se você nunca fez isso antes e sabe que não vai ser muito bom nisso e as pessoas te observarão, prestarão atenção em você, no seu desempenho, deixe-me dizer que é aterrorizante. O que fez a chave virar na minha cabeça foi pensar que era um processo de aprendizagem, assim como eu, todos eram iniciantes ali. Se tirarmos a pressão sobre você, concentrando-se em algo mais realista que te dê confiança, motivação ou até mesmo pensando em se divertir, a resistência cai e podemos apenas começar a desfrutar da tarefa e realmente executar melhor.
O poder da autoimagem para fazer coisas difíceis
É claro que, acordar às 5 horas da manhã, no frio, para ir para a academia, não parece nada divertido e nem motivador, mas há outro truque que nós podemos usar em nosso cérebro, que é alterar a narrativa que temos sobre nós mesmos. Todos falam com si mesmos, mas o que a maioria das pessoas não percebe é que as palavras que usamos são muito importantes. Há nuances na linguagem que podemos usar para enganar nosso cérebro, por exemplo, mudar a narrativa para que as ações daquela coisa difícil se alinhem com a sua identidade. Veja esse exemplo:
Se eu disser a mim mesmo que preciso malhar e entrar em forma, meu cérebro receberá essa mensagem, processará e decidirá que não vamos fazer isso hoje, porque, por definição, se eu preciso entrar em forma, isso significa que eu, de fato, não estou em forma, e alguém que não está em forma não é alguém que malha e por isso não vou malhar. Meu cérebro vai resistir a malhar e chegar a essa conclusão maluca porque não se alinha com a minha identidade. Mas se eu reorganizar um pouco as palavras e disser a mim mesmo que eu sou uma pessoa que treina, o que as pessoas que treinam fazem é ir para a academia e elas provavelmente estão em ótima forma, isso significa que eu iria para a academia, fazendo aquela coisa difícil que vai se alinhar com a minha autoimagem.
Cuidados e desenvolvimento de longo prazo
Lembre-se que só podemos agir de acordo com a forma como nos vemos. Eu sei que isso pode parecer loucura, mas eu não estou dizendo para mentir para si mesmo, obviamente não posso dizer que sou uma pessoa que vai lançar uma empresa bilionária amanhã, isso é pura tolice, mas é por isso que a linguagem é tão importante. A chave para enganar nosso cérebro é alinhar nossa identidade com as ações da pessoa que queremos nos tornar, não com o resultado final. Eu não estou dizendo que sou super maluco, estou dizendo que sou alguém que treina, consegue ver a diferença?! Um deles é baseado no progresso, baseado em ações e o outro é baseado na fantasia.
É claro que não queremos que nosso cérebro esteja em estado constante de engano. Enganar nosso cérebro não é uma solução permanente para fazer um trabalho difícil. Uma vez que somos capazes de cultivar consistência, em nosso trabalho e em nossos hábitos, cria-se um efeito bola de neve, que perpetua a motivação, ações consistentes, que leva ao progresso, levando a mais motivação.
Quando desenvolvemos consistência, começamos a gostar de fazer coisas difíceis como, empurrar pesos, fazer esforço cognitivo para estudar e aprender, entre diversas outras coisas. Definitivamente experimente você mesmo. Essas são algumas das estratégias que você pode utilizar para enganar seu cérebro para fazer coisas difíceis.
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“A verdadeira compaixão não significa apenas sentir a dor de outra pessoa, mas estar motivado a eliminá-la.”